O dia do meu primeiro post é também o aniversário de Olinda e Recife, essas cidades-irmãs que são minhas raízes e meu lar. É certamente emocionante falar sobre elas, seja em qual for a situação, pois temos um caso de amor incondicional. Hoje se completam 480 e 478 (respectivamente) anos de revoluções – políticas, sociais, musicais – e de memoráveis carnavais.
Quando se pensa em Pernambuco/Nordeste, costuma se pensar em seca, em chão batido, cangaceiros e forró. Mas Recife e Olinda não são nada disso. Ok, tem forró (ainda bem), mas tem muito muito muito mais. Também tem quem pense logo nas praias urbanas paradisíacas do litoral nordestino, Boa Viagem é realmente um desbunde. Mas como disse, tem mais, muito mais. Pernambuco é um estado diferente dos outros do Nordeste. Seu turismo é mais cultural e principalmente histórico. Berço de movimentos como a Revolução Praieira – revolta socialista e anti-monarquista ocorrida entre 1848 e 1850 que pretendia mudar o cenário político brasileiro – e o #OcupeEstelita (dá um Google porque você merece conhecê-lo) – que luta para derrubar um projeto que pretende construir treze torres de quarenta andares à beira do rio, no Cais José Estelita, um dos pontos históricos mais importantes da cidade – é uma terra de muitas lutas, o que acabou por formar um povo resiliente.
Recife é underground, uma metrópole. Antiga e cheia de História, moderna e cheia de concreto, portuária, vanguarda desde sempre. Cortada por rios, a cidade foi construída em cima do mangue e é ligada por diversas pontes. “Rios, pontes e overdrives”, como diria a famosa música de Chico Science e Nação Zumbi. Falando neles, foi aqui e pelas ideias e mãos desses rapazes, somados a Fred Zero Quatro (da Mundo Livre S/A), Otto e tantos outros, que começou o Movimento Manguebeat em meados dos anos 90. O nome é óbvio demais para ser explicado. Caranguejos cerebrais fazendo revolução na música, moda e costumes. Unindo o maracatu ao rock’n roll, o côco ao hip-hop, a camisa de chitão ao jeans detonado, o chapéu de palha ao tênis all-star. O recifense é de natureza crítica, brigamos por nossos direitos e pelo que achamos ser melhor para nossa cidade, mas também somos muito orgulhosos, tudo aqui é o maior ou o melhor do mundo.
Olinda é Patrimônio Histórico da Humanidade, título que carregamos com peito estufado. Seu casario colorido é marca registrada da cidade que abriga músicos, cineastas, bailarinos e tantos outros artistas. Em Olinda você encontra diversos ateliês, abertos à visitação, de grandes nomes das artes plásticas como Tereza Costa Rêgo, Zé Som e Marisa Lacerda, mas também tem A Casa do Cachorro Preto, galeria/bar que tem como princípio lançar novos artistas e caráter posicionado à esquerda. Aqui é ainda a casa de Alceu Valença, que no carnaval sempre aparece na sacada para dar uma palhinha aos foliões. Boêmia, é uma cidade para se curtir de sandália Havaiana e vestidinho solto. O olindense é cool sem fazer esforço, odeia pretensão, chamamos de “Original Olinda Style”, nome do segundo álbum da banda local Eddie, que encabeça outras tantas bandas e DJs, com um swingado que une o popular, as guitarradas e a surf music.
E ainda tem o carnaval… mas nem vou entrar muito nesse assunto, pois merece um post só pra ele. Mas posso adiantar que quem nunca passou os quatro dias de Momo por aqui, nunca entenderá a magia desse povo e de seus costumes. E ó, isso é um convite, visse? Pode vir, a gente adora receber! Aqui tem festa pra todo mundo, pra começar, não precisa de abadá ou ingresso, a folia é de graça. É a catarse carnavalesca dos brilhos, paetês, do axé (a bebida feita com cachaça e não a música), dos encontros inesperados no meio bloco, dos abraços, do amor.
Vou te dizer, poderia passar dias aqui falando sobre essas duas cidades, mas você ia cansar (mais). Essa é a terra de muita gente incrível e ao longo da minha jornada no Modices prometo de apresentar a todas elas. Melk-Z Da, Trocando em Miúdos, Duas, Bozó Bacamarte, Rua, Pé Preto, Raoni Assis, Calma Monga, Gabi Fonseca, Sexto Andar, Juliano de Holanda, Maria Ribeiro, Simone Mendes, AKombi, Nuvemm… só pra citar alguns nomes dessa galera que faz dessas duas cidades, com muito amor, cuidado e responsabilidade, um lugar para se ter orgulho.
É muito difícil escrever um texto sobre Recife e Olinda sendo apenas leve. É impossível falar dessas cidades com franqueza citando apenas seus cartões postais e suas festas. Só vivemos em um lugar tão incrível assim (para o bem ou para o mal) graças às nossas tradições, à nossa cultura, à devoção de um povo que nunca acreditou que ter fé na vida é entoar um discurso ingênuo e otimista de livro de autoajuda, mas valorizar conquistas, reconhecer erros, defender suas bandeiras e lutar incansavelmente por um lugar melhor para se viver. Essas cidades-irmãs são de todas as cores e cheias de contrastes. Um salve aos meus amores! Feliz Aniversário. Muitos e muitos mais anos de rebeldia e carnaval!
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